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Só hoje



HOJE,


nesta

terça-gorda

de carnaval,

me permiti

te chorar,

amigo


só hoje,

em meio à turba

em meio à chuva

anônimo e

invisível


tão junto

e tão sozinho


só hoje

me permiti,

amigo,

te chorar


(foram dois meses

resistindo)


e voltei

pra casa

como um carro

trágico-alegórico


imponente

belo

ridículo


essa alegoria clichê

de chuvas e lágrimas

– e você tocando

ao fundo

seu trompete –


[e aí eu ria, chorando, do ridículo

que você acharia da cena…]


só hoje

em meio à fantasia

da alegria coletiva

em meio à entrega

inevitável

à vida

em meio à tantos

você, ali,

possíveis


só hoje

pude aceitar


– e registrar neste poema

ruim e bêbado,

que você, ao ler,

faria lindo –


o inaceitável

de tua partida.


(Poesia de Jeff Vasques em "És fardo ou farda")


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