Previsão do tempo
PREVISÃO DO TEMPO
I.
“Oh, que tragédia!”,
“Terrível desastre!”,
“Tão triste acaso…”,
“Mas que catástrofe!”.
Tais frases,
repetem,
os senhores,
que nunca morrem
– catas
trofica
mente –
em deslizamentos
enchentes, rompimentos
de barragens.
II.
Vejam,
não se trata, aqui,
de que a meteorologia
– assim como as urnas –
sejam imprecisas.
Trata-se
de que o tempo
– e a dor que se acumula –
não são de todo
imprevisíveis.
E, acima de tudo,
que há forças
da natureza que
– além de fúria –
têm memória.
III.
Quando o tempo
– realmente –
fechar
e não for recomendável
– aos senhores –
sair às ruas
e praças…
(nuvens carregadas
apagando seus horizontes…
vendavais gritando pelas
frestas das casas…
e o tremer de suas pernas
anunciando
que a terra
se rasga
sob um vulcão
– secular –
de raivas…)
Quando o tempo
fechar
e todas as suas
usinas, barragens, fábricas
forem inundadas,
engolidas por essa
força revolta
– e mais que natural –
da vida…
diremos, então, “oh,
que tragédia!”, “terrível
desastre!”, “tão triste
acaso…”, “que
catástrofe!”.
(poema de Jeff Vasques em "És fardo ou farda")
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