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Canção do amor livre - Jacinta Passos



Canção do amor livre


Se me quiseres amar

não despe somente a roupa.


Eu digo: também a crosta

feita de escamas de pedra

e limo dentro de ti,

pelo sangue recebida

tecida

de medo e ganância má.

Ar de pântano diário

nos pulmões.

Raiz de gestos legais

e limbo do homem só

numa ilha.


Eu digo: também a crosta

essa que a classe gerou

vil, tirânica, escamenta.


Se me quiseres amar.


Agora teu corpo é fruto.

Peixe e pássaro, cabelos

de fogo e cobre. Madeira

e água deslizante, fuga

ai rija

cintura de potro bravo.


Teu corpo.


Relâmpago depois repouso

sem memória, noturno.




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