Black Friday
BLACK FRIDAY
estão lado a lado e são muitos…
e têm raiva, gritam, correm, urram,
a energia transborda, explode uma disposição
irracional pra luta…
mas não estão juntos.
estão, ali, ombro a ombro,
são uma onda de vontades
e sonhos…
solitários.
são muitos,
mas não são um todo…
fragmentos, estilhaços
ricocheteando em desespero..
tantos e tão
ínfimos,
assim,
isolados
na cápsula
que lhes foi conferida,
são ilhas
poderiam tomar toda a loja
poderiam tomar todas as fábricas
eram muitos e estavam – ali – ladoalado
em raiva vida
querendo mais vida
mas algo tapa
suas vistas
se chocam, se socam, mordem, batem, gritam
numa busca desumanamente humana
por algo de vida
- com desconto -
que lhes concedem
– rindo –
uma vez
ao ano.
II.
não eram muitos
mas eram unos
eram juntos uma imensidão
vontade coletiva
e forjaram um só corpo
de braços nas serras e pés
nas esquinas
e depuseram um ditador
e tomaram a ilha
e enfrentaram o império
e se fizeram pontes
e se lançaram istmos
e nos davam o braço,
a mão, o canto
nos levantavam gritando
“é possível, ainda!”
e um sorriso ecoando noutro
ria-se do poder que
sempre fomos
e logo éramos
uma internacional
de sonhos
saqueando de volta
a vida,
sem descontos,
a integral,
merecida.
III.
Morreu Fidel
na black friday.
Imenso,
ele se riria,
certamente,
com essa
ironia.
Cuba segue
um continente
dentre um mar
de ilhas.
(poema de Jeff Vasques em "És fardo ou farda")
Comments